Illustration by Ralph Steadman, [2006]

CANTEIRO DE OBRAS: símile de caderno de campo, instrumento tão prosaico do ofício etnográfico, de onde são construídos [ e destruídos, para que de suas ruínas outras tantas edificações possam surgir ] todos os mais sólidos paradigmas antropológicos. O caráter destrutivo, intrínseco ao desenvolvimento do pensamento antropológico, também é fundante de qualquer canteiro de obras.

O caráter destrutivo não vê nada de duradouro. Mas eis precisamente por que vê caminhos por toda parte. Onde outros esbarram em muros ou montanhas, também aí ele vê um caminho. Já que o vê por toda parte, tem de desobstruí-lo também por toda parte. Nem sempre com brutalidade, às vezes com refinamento. Já que vê caminhos por toda parte, está sempre na encruzilhada. Nenhum momento é capaz de saber o que o próximo traz. O que existe ele converte em ruínas, não por causa das ruínas, mas por causa do caminho que passa através delas.

Símile porque hipercaderno de campo, um cadernoide, espaço virtual de experimentação hipertextual [ fundamentalmente dinâmica, fragmentária, não-sequencial, inconclusa ] e do concomitante desenvolvimento de estratégias para saber… fazer… saber fazer “saltar” entre seus fragmentos, arranjados de múltiplas maneiras, sempre renovadas. Todavia, na distância que separa este hipercaderno daquele tradicional caderno de campo, uma afinidade essencial parece restar: seu inacabamento essencial, lugar de contínuos retornos e [re]começos. CANTEIRO DE OBRAS: tempo da infância, espaço de brincadeira.

É que as crianças são especialmente inclinadas a buscarem todo local de trabalho onde a atuação sobre as coisas se processa de maneira visível. Sentem-se irresistivelmente atraídas pelos detritos que se originam da construção […]. Nesses produtos residuais elas reconhecem o rosto que o mundo das coisas volta exatamente para elas, e somente para elas. Neles, estão menos empenhadas em reproduzir as obras dos adultos do que em estabelecer entre os mais diferentes materiais, através daquilo que criam em suas brincadeiras, uma relação nova e incoerente. Com isso as crianças formam o seu próprio mundo de coisas, um pequeno mundo inserido no grande.

Como brinquedo, coisa de jogar, CANTEIRO DE OBRAS arqui]vos de antropo[logia  se [re]constitui então como um dispositivo hipertextual de escrita, formado a partir de resíduos do pensamento de Walter Benjamin; fragmentos diversos, notas e materiais de uma antropologia apenas esboçada, jamais concluída, ruínas enigmáticas que insistem em desafiar a compreensão de seus leitores contemporâneos… [ para iniciar o jogo, a brincadeira, clique aqui ]

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