[p 1, 1]

As arrogantes e lacrimosas Mémoires de Chodruc-Duclos, recolhidas e publicadas por J. Arago e Édouard Gouin, Paris, 1843 (volumes I e II), são ocasionalmente interessantes por apresentarem elementos para uma fisiologia do mendigo. O longo prefácio não vem assinado e não esclarece nada sobre o manuscrito. As memórias podem ser apócrifas. Lê-se o seguinte: “Que ninguém se engane: não é tanto a recusa que humilha, mas o óbulo… Eu jamais pedia estendendo a mão. Andava mais depressa que aquele que deveria fazer justiça à minha requisição, abria minha mão direita, e ele deslizava nela alguma coisa.” Vol. II, pp. 11-12. E ainda: “A água sustenta!… eu me fartava de água porque não tinha pão.” Vol. II, p. 19.

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[p 1,2]

Cena no dormitório de uma prisão, no início dos anos trinta. Benoist cita a passagem, sem revelar o autor: “À noite, no dormitório barulhento, ‘os operários republicanos, antes de se deitarem, apresentavam A Revolução de 1830, espécie de charada teatral composta por eles. Ela reproduzia todas as cenas da gloriosa semana, desde a deliberação de Charles X e dos ministros para a assinatura das Ordenanças até o triunfo do povo; representava-se o combate de barricadas com uma guerra de travesseiros por trás das camas e dos colchões empilhados, e, no fim, os vencedores e os vencidos se reconciliavam para cantar a Marselhesa.” Charles Benoist, “L’homme de 1848”, parte I, Revue de Deux Mondes, 1 jul. 1913, p. 147. O texto citado encontra-se provavelmente em Chateaubriand.

[p 1, 3]

Ganeau. “O Mapah … apresenta-se com a aparência de um perfeito dândi, apaixonado por cavalos, amante das mulheres, apreciador da boa comida, mas completamente desprovido de dinheiro. Supre essa falta de pecúlio com o jogo: é um habitué de todas as casas de jogo do Palais-Royal… Ele se imagina destinado a ser o redentor da companheira do homem, e … toma o título de Mapah, nome formado das primeiras silabas de duas palavras — mamãe e papai. E acrescenta que todos os nomes próprios devem ser modificados da seguinte maneira: deve-se levar não mais o nome do pai, mas a primeira sílaba do nome materno combinada com a primeira sílaba do nome paterno. E para deixar bem claro que se despojou para sempre de seu antigo nome … ele assina: ‘Aquele que um dia foi Ganeau.'” Ele distribui seus panfletos na saída dos teatros ou os envia; tentou até mesmo persuadir Victor Hugo a ser patrono de sua doutrina. Jules Bertaut, “Le ‘Mapah'”, Le Temps, 21 set. 1935.

[p 1a, 1]

II o flâneur e a massa

Charles Louandre sobre as fisiologias que ele acusa de corromper os costumes: “Esse triste gênero … logo cumpriu seu destino. A fisiologia, que se publica no formato in-32 para ser comprada … pelas pessoas que passeiam, figurava, em 1836, na Bibliographie de la France, com 2 volumes. Ela apresenta 8 volumes em 1838, 76 em 1841, 44 em 1842, 15 no ano seguinte, e, na melhor das hipóteses, 3 ou 4 nos últimos dois anos. Da fisiologia dos indivíduos passou-se à fisiologia das cidades. Havia Paris la nuit, Paris à table, Paris dans l’eau, Paris à cheval, Paris pittoresque, Paris bohémien, Paris littéraire, Paris marié. Em seguida, veio a fisiologia dos povos: Les français, les anglais peints par eux-mêmes; depois a fisiologia dos animais: Les animaux peints par eux-mêmes et dessinés par d’autres. Enfim … os autores … já sem assunto, acabaram pintando a si mesmos e nos deram La physiologie des physiologistes.”‘ Charles Louandre, “Statistique littéraire de la production intellectuelle en France depuis quinze ans”, Revue de Deux Mondes, 15 nov. 1847, pp. 686-687.

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[p 1a, 6]

Segundo Toussenel, as raças que colocam a mulher numa posição elevada são superiores; ocasionalmente, os germanos, mas sobretudo os franceses e gregos: “Assim como o ateniense e o francês têm a marca do falcão, o romano e o inglês têm a da águia.” (A águia, porém, “não se reúne a serviço da humanidade”.) A. Toussenel, Le Monde des Oiseaux, vol. I, Paris, 1853, p. 125.