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II o flâneur e a massa

Surgimento das fisiologias: “A acalorada batalha política dos anos de 1830-1835 formou um exército de desenhistas … e este exército … foi, do ponto de vista político, posto totalmente fora de combate pelas leis de setembro. Portanto, na época em que esse exército já havia pesquisado todos os segredos de sua arte, ele foi bruscamente isolado em um único campo de atuação: a descrição da vida burguesa… Este é o pressuposto que explica o grandioso painel da vida burguesa que se iniciou por volta de meados dos anos trinta na França… Tudo passava em desfile … dias alegres, dias tristes, dias de trabalho e de descanso, costumes conjugais e hábitos do celibatário, família, casa, crianças, escola, sociedade, teatro, tipos, profissões.” Eduard Fuchs, Die Karikatur der europäischen Völker, 4a ed., Munique, 1921, vol. I, p. 362.

[p 2, 4]

I paixão estética

Quanta mesquinharia se afirmou mais uma vez, no fim do século, na apresentação de temas fisiológicos! Um exemplo característico é a descrição da impotência, extraída do livro de Maillard sobre a história da emancipação feminina, que fornece, em seu tom geral, um testemunho drástico da reação da burguesia consolidada frente ao materialismo antropológico. A propósito da apresentação da doutrina de Claire Démar, lê-se o seguinte: “Ela … falará das decepções que podem resultar do sacrifício imenso e incomum a que se arrisca mais de um jovem, sob o sol ardente da Itália, para ter a chance de tornar-se um cantor célebre.” Firmin Maillard, La Légende de la Femme Émancipée, Paris, p. 98.

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[p 2, 5]

I paixão estética

Uma passagem capital do manifesto de Claire Démar: “A união dos sexos no futuro deverá ser o resultado de simpatias … profundamente estudadas…, mesmo que se reconheça a existência de relações íntimas, secretas e misteriosas entre duas almas. Tudo isso ainda poderá ruir por conta de uma última prova decisiva, mas necessária, indispensável: a PROVA da MATÉRIA pela MATÉRIA; o EXPERIMENTO da CARNE pela CARNE!!!… É que, muitas vezes, na soleira da alcova, uma chama devoradora já se apagou; é que, muitas vezes, para mais de uma grande paixão, os lençóis perfumados do leito se tornaram uma mortalha; é que, mais de uma…, ao ler estas linhas, já terá entrado, certa noite, no leito do himeneu, palpitante de desejos e emoções, e levantado pela manhã fria e gelada.” Claire Démar, Ma Loi d’Avenir, Paris, 1834, pp. 31-32.