A atmosfera de Paris faz Carus lembrar-se do aspecto da costa napolitana quando sopra o siroco.
II tédio
[cf. GS I/2, 579-581]
[D 1a, 10]
[D 2, 8]
O livro muito engraçado de Emile Tardieu, L’Ennui, Paris, 1903, cuja tese principal é que a vida não possui nem fim nem fundamento, perseguindo inutilmente o estado de felicidade e equilíbrio, cita, dentre as múltiplas circunstâncias que seriam a causa do tédio: o tempo atmosférico. — Poderíamos definir este livro como uma espécie de breviário do século XX.
[D 2a, 4]
O trabalho na fábrica como infra-estrutura econômica do tédio ideológico das classes superiores. “A triste rotina de um infindável sofrimento no trabalho, no qual o mesmo processo mecânico é repetido sempre, assemelha-se ao trabalho de Sísifo; o fardo do trabalho, tal qual a pedra de Sisifo, despenca sempre sobre o operário esgotado.” Friedrich Engels. Die Lage der arbeitenden Klasse in England, 2ª ed., Leipzig, 1848, p. 217 (cit. em Marx. Das Kapital, Hamburgo, 1922, vol. I, p. 388).
[D 2a, 6]
Sobre os salões: “Percebiam-se em todas as fisionomias os traços inconfundíveis do tédio, e as conversas eram em geral raras, pacatas e sérias. A dança era vista pela maioria como um trabalho forçado ao qual era preciso submeter-se, por ser de bom-tom.” Mais adiante, a afirmação de “que talvez nas sociedades de nenhuma cidade da Europa se encontrem rostos menos satisfeitos, alegres e vivazes quanto nos salões parisienses; … além disso, em nenhum outro lugar da sociedade se ouvem mais queixas sobre o tédio insuportável do que aqui, tanto por simples modismo quanto por verdadeira convicção”. “Uma conseqüência natural disso é que impera nas reuniões sociais um silêncio e uma calma que seriam consideradas excepcionais nas grandes reuniões em outras cidades.” Ferdinand von Gall, Paris und seine Salons, Oldenburg, 1844, vol. I, pp. 151-153 e 158.
[D 3, 5]
“Os estratos calcários de formação recente, sobre os quais se localiza Paris, transformam-se em pó com muita facilidade, e este pó, como todo pó calcário, provoca dor particularmente nos olhos e no peito. Um pouco de chuva não adianta absolutamente nada, porque eles absorvem a água rapidamente e a superfície logo fica seca de novo.” “Junte-se a isso a feia e desbotada cor cinzenta das residências, todas construídas com esta pedra calcária porosa, que é extraída perto de Paris; — os telhados de um amarelo pálido, que vão enegrecendo com o passar dos anos; — as altas e largas chaminés que deformam até mesmo os prédios públicos … e que em certas regiões da cidade velha situam-se tão próximas umas das outras que mal se pode olhar através delas.” J. F. Benzenberg, Briefe geschrieben auf einer Reise nach Paris, Dortmund, 1805, vol. I, pp. 112 e 111.
[D 3a, 6]
“A introdução do sistema Mac Adam para a pavimentação dos boulevards deu nascimento a inúmeras caricaturas. Cham mostra os parisienses cegos com a poeira e propõe erigir … uma estátua com a inscrição: ‘A Macadam, dos oculistas e comerciantes de óculos, em reconhecimento!’ Outras representam os transeuntes suspensos em pernas de pau, percorrendo assim os pântanos e as poças d’água.” Paris sous la Republique de 1848: Exposition de la Bibliothèque et des Travaux Historiques de la Ville de Paris, 1909 [Poëte, Beaupaire, Clouzot, Henriot], p. 25.
[D 4, 5]
Michelet “faz uma descrição muito inteligente e piedosa da condição dos primeiros operários especializados por volta de 1840. Eis ‘o inferno do tédio’ nas tecelagens: ‘Sempre, sempre, sempre é a palavra invariável que retumba em nosso ouvido com a rotação automática, que faz tremer o assoalho. Ninguém jamais se habitua a isso.’ Muitas vezes as observações de Michelet (por exemplo aquelas sobre o devaneio e os ritmos dos ofícios) precedem intuitivamente as análises experimentais dos psicólogos modernos.” Georges Friedmann, La Crise du Progrès, Paris, 1936, p. 244. [A citação é extraída de Michetet, Le Peuple, Paris, 1846, p. 83.]
[D 4a, 3]
[D 5, 4]
[K 5a, 2]
Paris no ano de 2855: “A cidade tem trinta léguas de circunferência. Versailles e Fontainebleau, bairros perdidos entre tantos outros, projetam sobre periferias menos pacíficas os refrescantes perfumes de suas árvores vinte vezes centenárias. Sèvres, convertido em mercado permanente dos chineses, nossos compatriotas desde a guerra de 2850, exibe … seus pagodes com sinos retumbantes, entre os quais existe ainda a manufatura de outrora reconstruída em porcelana a moda da rainha.” Arsène Houssaye, “Le Paris futur”, in: Paris et les Parisiens au XIX Siècle, Paris, 1856, p. 459.