O ideal heróico de Baudelaire é andrógino. Isto não o impede de escrever: “Conhecemos a mulher autora filantropa, a sacerdotisa sistemática do amor, a poetisa republicana, a poetisa do futuro, fourierista ou saint-simoniana; e nossos olhos … nunca conseguiram se acostumar com toda essa feiúra presunçosa.” Baudelaire, L’Art Romantique, tomo III, Paris, Ed. Hachette, p. 340 (“Marceline Desbordes-Valmore”).
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arquivo temático p, folio 5, pg 3
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Uma das últimas seitas que surgiram no século XIX é a religião fusionista. Ela foi propagada por L. J. B. de Tourreil (nascido no ano VIII, morto em 1863 (ou 68?)). A influência de Fourier faz-se notar em sua periodização da história; a Saint-Simon se deve sua concepção da Trindade como uma unidade de Pai-Mãe com a qual se associa Filha-Filho ou Andrógino. A substância universal é determinada em seu comportamento por três processos, em cuja definição manifesta-se o fundo medíocre desta doutrina. Estes processos são: “A emanação, … propriedade que a substância universal possui de se expandir infinitamente para fora de si mesma… A absorção, propriedade que a substância universal possui de se voltar infinitamente sobre si mesma… A assimilação, propriedade que a substância universal possui de penetrar intimamente em si mesma.” (p. 1) — Uma passagem característica é o aforismo: “Pobres, ricos”, que se dirige aos ricos e lhes fala sobre os pobres: “Aliás, se não quereis erguê-los até o vosso nível e sentis desprezo ao misturar-se a eles, por que então respirais o mesmo ar, habitais a mesma atmosfera? Para não respirar e assimilar sua emanação … é preciso deixar este mundo, respirar um outro ar, viver numa outra atmosfera.” (p. 267) — Os mortos são multiformes e existem simultaneamente em muitos lugares da terra. Por isso, os homens precisam se interessar muito, durante sua vida, pela melhora da terra (p. 307). Finalmente, tudo se reúne em uma série de sóis que, após terem percorrido o estágio unilumiére [luz única] realizam a “luz universal” na “região universalizante”. Religion Fusionienne, ou Doctrine de l’Universalisation Réalisant le Vrai Catholicisme, Paris, 1902.